As fronteiras que separam a Arábia Saudita dos países vizinhos têm 9 mil quilômetros de extensão. Ao longo de 9 mil quilômetros, portanto, o país pretende instalar sistemas de radar, sensores de fronteira, câmeras e outras tecnologias de vigilância e de segurança. O valor dessa lucrativa encomenda é estimado em 2 bilhões de euros. E quem venceu a concorrência no ano passado foi um conglomerado dirigido pela empresa alemã Cassidian.
Trata-se de uma filial do conglomerado armamentista europeu EADS com sede em Unterschleißheim, nas imediações de Munique. O estrategista da empresa, Holger Mey, não esconde que a obtenção de tais encomendas é praticamente impossível sem influência política.
"Há diversos clientes que também impõem condições políticas. As condições não seguem meros critérios de mercado", explica. Em geral, são acordos governamentais com condições específicas que viabilizam o fechamento de negócios lucrativos.
Terrorismo, criminalidade organizada, pirataria, catástrofes naturais: nunca as perspectivas da indústria de segurança foram melhores do que hoje. Com satélites, aviões não tripulados, tecnologia de segurança para edifícios e vias de transporte e comunicação à prova de escuta clandestina, o setor fatura anualmente 100 bilhões de euros em todo o mundo, segundo indicam estimativas. O potencial de crescimento é de 5% ao ano. Só na Alemanha, o faturamento até 2015 deverá aumentar para 31 bilhões de euros ao ano.
Segurança "made in Germany"
Diante desse enorme potencial, o governo em Berlim se empenha em apoiar empresas alemãs. O ministro alemão da Economia, Rainer Brüderle, lançou uma iniciativa de exportação, a fim de criar condições ideais para o êxito nos mercados internacionais. "Boas chances de mercado são o outro lado da moeda da crescente ameaça", declarou Brüderle. "Estamos viabilizando nossa iniciativa de exportação por meio da marca ´Security Made in Germany´."
Por requerer um respaldo político maior, essa iniciativa recebe um incentivo especial da política externa do governo alemão. Os chamados government to government agreements, ou seja, acordos políticos entre governos, são a base desse tipo de negócio. Duas delegações acompanhadas de vice-ministros deverão viajar em breve para a Índia e para os Emirados Árabes. No Brasil, na China e no Japão, os empresários já tiveram chance de ampliar seu campo de negócios em companhia do ministro alemão da Economia.
Na área de tecnologia de controle de aeroportos e de sistemas de segurança de fronteiras, as empresas alemãs são líderes de mercado. Cerca de 70% de todos os aparelhos de fabricação de passaportes e documentos de identidade provêm da Alemanha, por exemplo.
São sobretudo as pequenas e médias empresas que chamam atenção com ideias e produtos inovadores. A firma alemã Microfluidic ChipShop, por exemplo, acabou de desenvolver com um parceiro americano um sistema que permite gerar dentro de duas horas o perfil genético completo de um ser humano, a ser utilizado para identificação pessoal.
Oportunidades por causa das normas internacionais
Há que se dizer, no entanto, que a concorrência internacional nesse setor não é fácil e tende a se acirrar cada vez mais. A fim de manter o mercado aberto, o governo alemão defende a introdução de novos padrões e normas na indústria de segurança. O Instituto Alemão de Normalização (DIN) já criou uma central de coordenação com essa incumbência.
Torsten Bahke, diretor do DIN, afirma que o instituto "já realizou importantes tarefas de normalização e estandardização no âmbito dos dados biométricos, além de ter uma atuação de alcance internacional, sobretudo na concepção de passaportes eletrônicos".
Apesar do êxito do setor, Bahke considera importante desenvolver estratégias para representar os interesses alemães não apenas na Europa, mas também em nível internacional.
"É por isso que a normalização é tão importante", reitera. A ideia é determinar padrões internacionais com o know-how alemão, pois quem determina as normas acaba fechando os melhores negócios.
Controle de exportação
Por outro lado, se a tecnologia de vigilância e segurança for exportada a países onde se desrespeitam os direitos humanos, a tecnologia "made in Germany" poderá ser utilizada para reprimir oposicionistas políticos, por exemplo. É por isso que muitos produtos de tecnologia de segurança, militar ou civil, são submetidos ao controle de exportação.
O responsável por esse controle dentro do Ministério alemão da Economia é o chefe do departamento de política econômica externa, Karl-Ernst Brauner. "Quanto temos que emitir permissões de exportação para a equipagem de forças de segurança no exterior, sempre nos perguntamos o que poderá ser feito com os produtos exportados. Será que eles aprimorariam um batalhão policial, por exemplo, responsável pela violação dos direitos humanos no país em questão?"
Diante do atual empenho no combate ao terrorismo, a elucidação objetiva dessas questões se torna cada vez mais periférico. Afinal, quando os países ocidentais se veem ameaçados, as questões morais passam a ser de segunda ordem, admite Brauner. "Talvez seja o caso de colaborar para aumentar o desempenho de segurança dos países de origem dos terroristas", sugere.
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