terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Liceu Fernão Magalhães deu 300 Novas Oportunidades

Sob o lema “Viva e aprenda com a escola da vida”, foram entregues no passado sábado, 29 de Janeiro, cerca de 300 diplomas a alunos do Centro Novas Oportunidades na Escola Secundária Fernão Magalhães

O director da Direcção Regional de Educação do Norte, António Leite, felicitou a dedicação dos diplomados“No meu tempo, não havia transportes e tinha que andar 1,5 quilómetros a pé para apanhar o autocarro até à escola”. Por isso, aos 13 anos, Maria de Fátima Fernandes desistiu de percorrer os caminhos da aldeia de Almorfe, no concelho de Chaves, para ter aulas. Há cerca de um ano, inscreveu-se no Centro Novas Oportunidades (CNO) e completou o 9º e, depois, o 12º. No sábado, Maria de Fátima recebeu um dos cerca de 300 certificados de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) – nível básico e secundário – e cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA). Este sim, “era o percurso mais fácil e adequado” para Maria de Fátima.

Mas nem tudo foram rosas. “Foi duro conciliar os estudos porque tinha um filho no primeiro ciclo e chegava a estar até às duas da manhã a fazer trabalhos”, conta Maria de Fátima, 40 anos. O que mudou com as Novas Oportunidades? “Já sei mexer num computador e o que é a internet, tenho mais vocabulário e estou mais motivada, quero saber mais. Não me sinto tão analfabeta e não tenho medo de me candidatar a empregos”, responde. Até já está inscrita num curso de informática, em Moreiras, e recusa a imagem de facilitismo: “isto tem a sua exigência. Se o trabalho não for suficiente, mandam fazer de novo”.

“Em boa hora se criou esta iniciativa”, considerou Daniel Afonso, director do CNO da Escola Secundária Fernão Magalhães na cerimónia da entrega de diplomas, que decorreu no ginásio da escola repleto de gente. O director da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), António Leite, felicitou a dedicação e “sacrifício” dos diplomados, apelando para espalharem o testemunho. “Temos que desmentir as falsidades que se dizem sobre este projecto. Há muita gente a fazer um excelente trabalho”, rematou.

O presidente da Câmara Municipal de Chaves, João Batista, também felicitou o “esforço, a abertura de espírito e a coragem de regressar à escola” dos formandos. “O município sente-se mais rico com a vossa formação. Em conjunto podemos responder aos desafios que se colocam numa altura de cada vez mais dificuldades”, concluiu. Entre os diplomados, constavam ainda formandos das itinerâncias do CNO pelas aldeias do Alto Tâmega, e empresas, como a Irmão Silva e Sousa, em Bragado.

“Para mim, tem mais valor do que a Bola de Ouro do Cristiano Ronaldo”

Pelo CNO da Fernão Magalhães, já passaram cerca de 3 mil pessoas, sendo que foram certificadas 800 com o nível básico e secundário desde 2006, de acordo com Daniel Afonso, que rejeita as acusações de facilitismo, já que os objectivos dos formandos não são os mesmos que os de um jovem que quer iniciar uma carreira. “Não trabalhamos para as metas, mas ao nosso ritmo, àquele ritmo ao qual é possível concretizar os nossos objectivos”, garante.

Emília Lopes aceitou dar o seu testemunho

Como o ritmo de Emília Lopes, uma reformada que completou o 9º ano através do CNO e decidiu testemunhar. “Para mim, isto tem mais valor do que a Bola de Ouro do Cristiano Ronaldo”, disse emocionada. “Com 65 anos, nunca pensei dominar novas tecnologias”, bem como assistir a colóquios, participar em workshops e visitas de estudo, contou Emília, que soube do programa num jornal local e inscreveu-se com o marido de 79 anos em Santo Estêvão. “Nunca conheci mais nada em toda a minha vida senão trabalho. Se não tivermos o mínimo de conhecimento sobre o que nos rodeia, a vida não tem sentido. Hoje sinto-me uma mulher praticamente realizada a 100%”.

“No futuro, é preciso sustentar o que já existe e mobilizar mais público para a importância da aprendizagem”, acrescentou Daniel Afonso. Para o responsável, as novas oportunidades estão a dar lugar às “novas necessidades”. “Cada vez mais, a sociedade vai-se deparando com situações em que é deficitária. [Agora] é preciso dar uma formação mais específica”.

Sandra Pereira

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